terça-feira, 7 de julho de 2009

Relatórios da miséria, fome, violência, Aids e desmatamento no planeta

Fome:

Todos os dias, mais de 850 milhões de pessoas vão se deitar com fome; dentre elas, 300 milhões são crianças. A cada cinco segundos, uma delas morre de fome.

O número de desnutridos nos países em desenvolvimento cresce à razão de quase 5 milhões de pessoas por ano.

Todo ano no Planeta, morrem de fome cerca de 30 milhões de pessoas.




Pobreza:

Entre 55 e 90 milhões de pessoas passarão à condição de pobreza extrema ainda neste ano de 2009, devido à recessão mundial resultante da crise financeira internacional.Mais de 1 Bilhão sofrerá de fome crônica no mundo todo.

Segundo pesquisas, 53,9 milhões de brasileiros são pobres; isso significa que quatro em cada dez brasileiros vivem em miséria absoluta. Entre as 130 Nações que medem a distribuição de renda, o Brasil é o penúltimo colocado; só ganha de Serra Leoa.equivale a 31,7% da população. 21,9 milhões dessa população são muito pobres, ou 12,9% dos brasileiros.






Água Potável:

Globalmente, ao longo das últimas décadas, a quantidade de água potável disponível tem diminuído dramaticamente.

Há 1,6 bilhão de Km³ de água no mundo, mas, o que podemos beber é menos de 1% disso...

A poluição das águas mata hoje 2,2 milhões de pessoas por ano; mais de 75 % da reserva mundial de peixes é sobre-explorada;

E o aumento no nível dos oceanos causado pelo aquecimento global pode deslocar dezenas de milhões de pessoas.

Em 20 anos, mais de 60% da população mundial sofrerão com a escassez de água. Também segundo a ONU, na atualidade, mais de 1,1 bilhão de pessoas não têm acesso a água tratada.



Saneamento:

Quatro em cada 10 pessoas no mundo não têm acesso nem a uma simples latrina de fossa não asséptica, e são obrigadas a defecar a céu aberto.

Aproximadamente 2 em cada 10 pessoas – mais de 1 bilhão de pessoas – não têm nenhuma fonte de água potável segura.

80% das internações hospitalares no mundo são devidas a doenças transmitidas pela água.

Como consequência, 3.900 crianças morrem diariamente em razão desta crise humanitária, totalmente evitável, porém silenciosa.

Habitação:

Atualmente, 900 milhões de pessoas vivem em assentamentos precários (favelas e áreas de risco) em todo o mundo.

A menos que a situação mude substancialmente, 1,5 bilhão de moradores de zonas urbanas serão favelados em 2020,o equivalente à população da China.

O Brasil terá 55 milhões de favelados,o que seria equivalente a 25% da população do país.

Atualmente, quase 1 bilhão de pessoas – um sexto da população mundial – vivem em favelas.

Educação:

O Brasil tem atualmente cerca de 16 milhões de analfabetos, e metade desse número está concentrada em menos de 10% dos municípios do país.

O planeta ainda conta com 780 milhões de analfabetos.

No Brasil existem 16,295 milhões de pessoas incapazes de ler e escrever pelo menos um bilhete simples.

Levando-se em conta o conceito de "analfabeto funcional", que inclui as pessoas com menos de quatro séries de estudo concluídas, o número salta para 33 milhões.

Trabalho Infantil:

Cerca de 2,5 milhões de crianças, entre 5 e 16 anos, trabalham no Brasil, o que o coloca entre os países com os maiores índices de trabalho infantil.

Cerca de 250 milhões de crianças no mundo trabalhando (entre os 5 e 14 anos), mas as estatísticas não são muito seguras, dado que boa parte da exploração é clandestina ou realizada em setores econômicos informais. Na África, uma em cada três crianças é explorada e, na América Latina, uma em cada cinco. A situação em alguns países No Equador, país que encabeça o ranking de trabalho infantil no continente, onde 1 milhão e quinhentos mil menores trabalham nos bananais, fabricação de tijolos e outros.

Aids:

No ano passado a Aids matou 3 milhões de pessoas, e outros 4,1 milhões foram infectados - mais de 8.000 por dia, e a doença hoje infecta 40 milhões, dos quais 25 milhões vivem no continente africano. Além disso, a epidemia deixou órfãos 15 milhões de crianças,

Mais de 500 mil crianças nasceram com o HIV, o vírus causador da Aids, no ano passado.

Entre elas, cerca de 20 mil crianças brasileiras.

O número de mulheres infectadas com vírus HIV aumentou em 44% no país nos últimos dez anos.

O uso de seringas contaminadas mata 1,3 milhão de pessoas por ano no mundo todo.

Somente no Brasil existe atualmente mais de meio milhão de pessoas contaminadas com o vírus da AIDS, mas elas não sabem disso.

Violência

Segundo a UNESCO, de 60 países analisados, em apenas 06 o número de homicídios é superior ao número de mortes por acidentes de trânsito.Dentre esses está o Brasil e mais três países da América Latina. Em 49 desses países, o número de suicídios é superior ao número de homicídios; dentre as exceções está o Brasil e mais sete países da América Latina. A América Latina é a região onde mais ocorrem homicídios no planeta: 30 mortes para cada grupo de 100.000 pessoas ao ano, o triplo da média mundial.

Da população mundial, o Brasil responde por 11% de todos os homicídios do planeta. É o 2º país que mais mata utilizando armas de fogo, 3º em homicídios contra jovens e 4º colocado em homicídios no geral. O Brasil é o 3º mais violento da América Latina, perdendo somente para a Colômbia e Venezuela.

Aborto:

Estima-se que são feitos 42 milhões de abortos a cada ano em todo o Planeta, e, desses, 20 milhões são ilegais ou executados clandestinamente. Segundo a OMS, abortos inseguros causam por volta de 65.000 a 70.000 mortes maternas a cada ano(1), 99% das quais ocorrendo nos países em desenvolvimento(2).

No Brasil a cada minuto, quase dois abortos clandestinos são realizados . O número é uma estimativa baseada nas internações pós-aborto pelo SUS e aponta que, desde 1999, cerca de 952 mil mulheres interromperam a gravidez por ano no país.

Desmatamento:

Dados divulgados indicam que a Floresta Amazônica perdeu 754,3 quilômetros quadrados de florestas entre novembro de 2008 e janeiro de 2009. A área equivale a metade do município de São Paulo.

O país perdeu um campo de futebol a cada dez minutos na Amazônia, nos últimos 20 anos.

O Brasil é campeão mundial de desmatamento. Em segundo lugar está a Indonésia: 18,7 km2 por ano e, em terceiro, segue o Sudão, com 5,9 km2. As principais causas pelo desmatamento na Amazônia são a retirada de madeira, o cultivo de soja e gado.

Quando olha para o mundo nessa perspectiva, consegue perceber a real necessidade de solidariedade, compreensão e educação?


segunda-feira, 6 de julho de 2009

Alterações climáticas ameaçam combate à pobreza Oxfam pede aos países desenvolvidos para reduzirem em 40 por cento as suas emissões até 2020

A extrema vulnerabilidade dos países mais pobres face às alterações climáticas é motivo de preocupação para a organização não governamental Oxfam que alertou esta segunda-feira para esse facto. A ONG exige que os países industrializados arranjem mais dinheiro para salvar da fome milhões de pessoas em todo o mundo.

As preocupações estão manifestadas no site da organização. Num relatório publicado a dois dias da cimeira do G8, onde vão reunir-se os sete países mais industrializados e a Rússia, a Oxfam avisa que os ganhos obtidos pelos países mais pobres na luta contra a pobreza nos últimos 50 anos «podem ser perdidos totalmente e de forma irreparável por causa das alterações climáticas».

De acordo com a Oxfam, citada pela AFP, o «verdadeiro custo» do fenómeno são os «milhões de vidas». A organização pede, por isso, aos países do G8 que se comprometam a reduzir pelo menos 40 por cento das suas emissões de gases com efeito de estufa até 2020.

Exigido aumento de investimento na adaptação aos efeitos climáticos

Para além disso, a organização exige destes países um aumento adicional dos apoios económicos para os países em desenvolvimento. A Oxfam pede um investimento de 150 mil milhões de dólares (107 mil milhões de euros) para ajudar os países pobres na adaptação aos efeitos climáticos e na redução das suas emissões poluentes.

De acordo com a organização, ajudar estes países é um dever dos G8.

O risco de «multiplicação das fomes» é a principal preocupação desta organização não governamental. Algumas culturas de base, como o milho e o arroz (vitais para as populações mais pobres) são muito sensíveis aos aumentos de temperatura e aos extremos climáticos.

Para elaborar o relatório, a Oxfam baseou-se nas conclusões de 2500 cientistas internacionais que se reuniram em Março, na Dinamarca. A organização cruzou depois estas previsões com os estudos das agências da ONU para a agricultura, refugiados e saúde.

Recorde-se que o clima vai ser um dos temas principais em destaque na cimeira dos oito países mais industrializados do mundo - Estados Unidos, Canadá, Rússia, Japão, França, Alemanha, Reino Unido e Itália que vai começar esta quarta-feira.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Dependente dos EUA, país teme bloqueio

Tegucigalpa tem economia frágil; isolamento internacional minaria apoio interno a golpistas


Honduras, um dos países mais pobres do continente, terá dificuldades para sobreviver às sanções americanas e da Organização dos Estados Americanos (OEA). A economia do país depende completamente dos EUA e da ajuda de organismos internacionais, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco Mundial, que já suspenderam o financiamento de alguns projetos em território hondurenho.

Será difícil para o governo de facto conseguir se manter no poder sem esse apoio financeiro, ainda mais com uma massa de desempregados que chega a 27,8%. Mais da metade da população vive abaixo da linha de pobreza e dois terços dos hondurenhos vivem na extrema pobreza, segundo o Banco Mundial.

Se nas grandes cidades a situação já é complicada, é ainda pior no interior do país, em áreas como o Departamento de Olancho, um dos mais pobres de Honduras, onde, nos últimos dias, ocorreram choques com o Exército.

A economia local é baseada nas exportações de café, banana e frutos do mar. Os EUA são compram 67,2% do que Honduras exporta, mas podem facilmente substituir o país por outro mercado fornecedor. Já Honduras não tem como substituir seu principal cliente, uma vez que seu segundo maior comprador, El Salvador, adquire apenas 4,9% de suas exportações.

De acordo com um relatório do Banco Mundial, o total das trocas comerciais de Honduras (importações mais exportações) equivale a 129% do PIB, o que deixa o país extremamente vulnerável a choques externos.

Para complicar, a Venezuela, aliada do presidente deposto Manuel Zelaya, fornecia a preços mais baixos petróleo para Honduras. E o presidente Hugo Chávez já anunciou que não manterá esse suprimento subsidiado para o governo de Roberto Micheletti.

Os empresários e fazendeiros locais em geral apoiam a deposição de Manuel Zelaya. Um dos motivos é o decreto para aumentar o salário mínimo em mais de 60%, visto por eles como populista. Por outro lado, se a pressão internacional se mantiver, talvez esses empresários obtém por ceder e retirem o apoio a Micheletti.

Nas favelas, o sentimento contra o governo autoproclamado pode se intensificar caso os EUA imponham barreiras ao comércio e os recursos do BID se tornem inacessíveis.

As remessas dos imigrantes hondurenhos nos EUA, que representam um quarto do PIB do país e poderiam servir para amenizar as consequências de sanções, devem ser escassas neste ano por causa da crise financeira global. Segundo o Banco Mundial, Honduras precisa crescer uma média de 6% ao ano para conseguir reduzir seus níveis de pobreza.

Obama buscará acordo no G8 para ajudar países pobres

CIDADE DO VATICANO - O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou que buscará um acordo para aumentar a ajuda aos países pobres afetados pela crise econômica mundial durante a próxima Cúpula do G8.

O evento, programado para ocorrer entre os dias 8 e 10 de julho na cidade italiana de L'Aquila, reunirá os representantes das sete nações mais ricas (Estados Unidos, Alemanha, França, Itália, Canadá, Japão, Reino Unido) e da Rússia.

Em entrevista ao jornal católico Avvenire, Obama ressaltou que o G20 (grupo dos países industrializados e dos emergentes) acordou em sua última reunião, realizada em abril na cidade de Londres, adotar medidas para "atenuar o impacto da crise econômica" no mundo.

"Neste sentido, fiz o Congresso aprovar US$ 100 milhões em créditos para o Fundo Monetário Internacional (FMI), como instrumento de ajuda aos países pobres", explicou o mandatário.

"A nossa prioridade no G8 é induzir os outros países a fazerem o mesmo", ratificou Obama, pontuando que "os Estados Unidos têm como objetivo redobrar a ajuda".

Ao comentar a relação entre EUA e Itália, atual presidente do turno do G8, o mandatário norte-americano disse que "Roma já contribuiu muito em ações militares no Afeganistão e que se ainda há necessidade de ajuda, é no adestramento das forças locais e no desenvolvimento da economia".

Obama, que durante sua viagem à Itália para participar da Cúpula será recebido pelo papa Bento XVI, contou também que conversará com o Pontífice sobre temas como "a paz no Oriente Médio, a luta contra a pobreza, as mudanças climáticas e a imigração".

Definindo Bento XVI um "líder extraordinário", o presidente contou esperar do Vaticano "uma colaboração duradoura" sobre os pontos que serão abordados no encontro, principalmente os relativos ao Oriente Médio.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

G8: ONGS PEDEM A BERLUSCONI AÇÕES CONTRA FOME E POBREZA


ROMA, 2 JUL (ANSA) - Às vésperas da Cúpula do G8, a entidade Coalizão Italiana Contra a Pobreza entregará um milhão e meio de assinaturas ao primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, como forma de pedir ações concretas contra a miséria, a fome e as mudanças climáticas.
Os representantes da instituição, que reúne mais de 70 organizações não-governamentais, irão se reunir hoje com o premier no Palácio Chigi, sede do governo italiano.
Na ocasião, os líderes da Coalizão Italiana Contra a Pobreza vão questionar se o país, atual presidente do turno dos sete países mais ricos e da Rússia, pretende usar sua posição estratégica para impulsionar os instrumentos que garantem os direitos econômicos e sociais no mundo.
Segundo a entidade, a Itália é um dos países que mais reduziram a ajuda às nações em desenvolvimento.
No mês passado, as ONGs Oxfam Internacional e Ucodep exigiram que os membros do G8 (Estados Unidos, França, Itália, Canadá, Alemanha, Reino Unido, Japão e Rússia), cumpram suas promessas de auxílios aos países pobres.
O porta-voz da Oxfam Internacional, Farida Bena, afirmou que o apelo era dirigido, principalmente, ao governo italiano, o qual, segundo ele, foi um dos que mais recusaram o plano que previa a doação de uma parte do Produto Interno Bruto dos países do grupo para as nações em desenvolvimento até 2015.
"Em 2006, a quota do PIB destinada aos países em desenvolvimento devia ser 0,33%. Em 2008, a Itália colocou à disposição apenas 0,22% e se prevê que este ano será de 0,09%", explicou Bena, ressaltando que algumas nações que não fazem parte do G8, como a Espanha, "estão colaborando melhor, mesmo com a crise econômica".
A próxima Cúpula do G8 está agendada para ocorrer entre os dias 8 e 10 de julho na cidade italiana de L'Aquila. (ANSA)

Mulher vive no limite da pobreza


02 de Julho de 2009

Ela pede à população que a ajude a aliviar a situação difícil em que vive

No limite da pobreza. É assim que vive Selita de Oliveira do Nascimento, 54 anos, moradora na rua Luiz Canani, ao lado do número 345, no bairro Santo Antônio. Doente, a mulher vive em uma casa de madeira sem as mínimas condições de infraestrutura. Desesperada, procurou O Momento para fazer um apelo à comunidade e autoridades a ajudarem a sair da situação difícil em que vive.

Separada, Selita mora sozinha. De vez em quando conta com a companhia de duas netas que dormem em sua casa. Ela tem três filhos casados, sendo que dois moram em Lages. Só que, segundo ela, todos são pobres também e não tem condições de ajudá-la. Dessa forma, enfrenta uma série de problemas vivendo em condições subumanas.

Com dois cômodos, a casa onde ela mora encontra-se com a estrutura comprometida. Há frestas, goteiras e buracos por todos os cantos. O assoalho, a cobertura e as madeiras de base não oferecem segurança; os cupins tomaram conta da madeira. A preocupação é que tudo caia sobre ela. A mobília é composta apenas com objetos velhos. No abrigo é possível encontrar um fogão à lenha, uma mesa com cadeiras, uma cama e alguns objetos de cozinha. Não há energia elétrica e nem banheiro. “Me ajudem, por favor”, apelou.

Mas o drama da mulher não para por aí. Doente, ela sofre de asma, tem cisto e uma hérnia na barriga precisando fazer inclusive uma cirurgia. Por falta de dinheiro, diz que interrompeu o tratamento com remédios. A falta de alimentação também é um drama. Para garantir um prato de comida conta com a ajuda de amigos.

Não bastasse tudo isso, também tem sofrido muito com o frio rigoroso do inverno, pois não tem agasalho e roupas de cama para se proteger. “Eu peço ajuda das pessoas, que façam doação de comida, roupa, móveis, remédios, madeiras para reformar minha casa, enfim, qualquer coisa é bem-vinda”.

Na Secretaria Municipal de Assistência Social informaram que Selita recebe, de tempos em tempos, uma cesta básica do Centro de Assistência Social (Cras) do bairro Centenário e que já foi orientada a se cadastrar no Bolsa Família. Da Secretaria Municipal de Habitação saiu a promessa de encaminhar uma equipe para verificar a situação da moradia.

Quem quiser ajudar Selita fazendo doações pode entrar em contato com a sua amiga Zilma Terezinha Ribeiro pelo telefone (49) 3224-5986 ou se deslocar à casa de Selita.

Vão de Almas, símbolo da dívida histórica do Brasil com seus escravos




VÃO DE ALMAS (AFP) — Ao raiar do dia, Zé de Marisa parte com suas mulas para anunciar a morte do velho Justino, em Vão de Almas, uma das remotas aldeias criadas há séculos no Brasil por escravos fugitivos; e que aguarda as promessas de construção de uma estrada que a conecte ao século 21, feitas pelo presidente Luiz Inacio Lula da Silva.

"O velho Justino morreu hoje. Ouviram? Avisem as pessoas, grita Zé, no cume de uma colina, numa chácara distante, do outro lado do caudaloso rio Paranã.

São seis horas até a cidadezinha mais próxima, onde poderá pegar um telefone para informar os parentes que deixaram o local.
Um velho quilombola fuma um cachimbo
durante o enterro de velho Justino

Como a maioria das comunidades de descendentes de escravos, as 400 famílias que moram na aldeia pagam caro por seu isolamento histório: não há estrada, água, luz, telefone ou médico; a única presença aparente do Estado são pequenas escolas com permanente déficit de professores.

Vão de Almas é a mais isolada das comunidades Kalunga, um território de 2..530 km2 de serra e rios, a 400 km ao norte da capital brasileira.

A histórica fuga de seus fundadores e seu isolamento geraram uma cultura de heranças africanas e indígenas que, em parte, vão se perdendo.


O falecido dom Justino, que faria 100 anos, é velado por toda a comunidade à luz de vela... Ele era o rezador de cerimônias e casamentos e curava com unguentos. Morreu sem deixar sucessor.

Elva Valera da Conceição, uma anciã magra de 70 anos, que cria 12 netos, é a parteira da comunidade.

"Como aprendi? Mistério de Deus. Meu pai me ensinou as orações", explica à AFP junto a jovens que descascam arroz e moem a farinha em grandes moendas.

O caminho através do território Kalunga, em burro e a pé pela serra escarpada, é passo obrigatório quando se precisa de alguma coisa ou se quer vender seus produtos. Não são muitas as vezes que um todo-terreno oficial se aventura pela serra.

Dom Justino decidiu que não queria fazer a penosa viagem até o hospital.

"Ser Kaluna é sofrimento", explica dona Natalina, que criou sozinha os oitos filhos e recorda com horror quando teve que cruzar as montanhas escapadas a pé, com o filho de 14 anos nas costas, para evitar que morresse de pneumonia,

As casas espalhadas pela serra são de adobe, com telhado de palha; a comida é feita em fogão a lenha, muitas vezes no chão e a fonte da vida são os rios.

O Estado nos deve, durante muitos anos nada recebemos. Não queremos ir para a cidade, passar fome, lutamos por uma estrada e educação", lamenta Zé, que foi eleito representante da comunidade no município, para aonde vai uma vez por mês.

"É indigno como tratam os Kalungas, como se não fossem gente. O Estado não oferece nenhuma condição. Tive que construir minha casa de barro e comprar burros para me instalar", desabafa a professora Sandra Ferreira da Silva.

Lula prometeu casas, eletricidade, educação, saneamento básico, no início de seu governo.

Líder da desigualdade social, nos últimos 20 anos, o Brasil acelerou o reconhecimento de territórios indígenas e uma reforma agrária para dar terra aos que nada têm.

Os descendentes de africanos foram os últimos da lista, beneficiados com o decreto do presidente Lula que, logo ao chegar ao poder, reconheceu a propriedade coletiva desses territórios fundados por escravos e considerados entidades históricas e culturais.

Só que as promessas de Lula chegam a conta-gotas, podendo, inclusive, ser revertidas com uma ação de inconstitucionalidade na Supremo Tribunal Federal.

"Essas pessoas não existiam para o Estado brasileiro antes desse reconhecimento. A maioria desses quimbolas foram encontrados em situação semelhante à vivida no século XVIII; muitos nem conheciam dinheiro", denuncia Zulu Araújo, presidente da Fundação Palmares que tutela essas aldeias das quais, calcula, existam 3.500 em todo o Brasil, com três milhões de pessoas.

O Brasil, que trouxe milhões de escravos da África, foi um dos últimos países a abolir a escravidão, em 1888. Hoje, a metade de sua população, de 190 milhões de pessoas, possui descendência africana, mas a desigualdade persiste: o salário médio da população negra corresponde à metade do recebido pelos brancos e sua presença no ensino superior não chega a 3%.