domingo, 7 de junho de 2009

Contra a fome infantil

À conversa com... Laura Melo, Membro do Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas

Ontem

LEONOR PAIVA WATSON

Laura Melo viu crianças a morrer à fome e não esquece que por muito pouco dinheiro é possível alimentar milhões delas. A próxima Marcha contra a fome é já no dia 7, em Lisboa e no Porto.

Laura Melo trabalha no Programa Alimentar Mundial, das Nações Unidas, na área da comunicação com o sector privado. Diz que desde há cinco anos vê e, algumas grandes empresas uma maior preocupação social.

O Programa Alimentar Mundial (PAM)é o grande beneficiário das marchas contra a fome que se realizam em vários países, ao mesmo tempo, todos os anos. Como é aplicado o produto dessas marchas?

Os fundos são doados ao PAM e, mais especificamente, aos programas de alimentação escolar. O PAM dá alimentação escolar a 20 milhões de crianças em 70 países, sobretudo, na África, na América Latina e na Ásia.

O seu trabalho no PAM é a comunicação com o sector privado. Como se comportam as grandes empresas face ao flagelo da fome?

Os nossos principais doadores são os governos. Os Estados Unidos da América, o Canadá, o Japão, a Holanda são grandes doadores. Mas, respondendo à sua questão, desde há cinco anos que percebo uma alteração de comportamento por parte das grandes empresas. Parece-me que, cada vez mais, compreendem a sua responsabilidade social.

Isso é bom, se tivermos em conta que o PAM não tem um orçamento central…

Sim, sim, nós não temos um orçamento central. Cada cêntimo que gastamos foi angariado por nós. Para cada projecto que desenhamos, temos que angariar fundos. Ao contrário de outras agências da ONU (Organização das Nações Unidas), nós não temos um orçamento central e o nosso financiamento é exclusivamente voluntário.

Quem são os vossos grandes parceiros privados neste momento?

Temos a TNT que, além de nos financiar, ajuda-nos muito na parte logística. Temos a Unilever que nos apoia na área da nutrição e em campanhas de comunicação; e temos a DSM que nos ajuda também na área da nutrição. Não só nos dão apoio financeiro, como apoiam de forma directa alguns dos projectos.

A Laura visita os projectos no terreno e já esteve mesmo sediada no terreno, designadamente, no Quénia. Viu de muito perto a fome e as suas consequências. Como é tentar sensibilizar os outros para este flagelo? É um trabalho inglório ou compensador?

É muito difícil ver uma criança a morrer de fome. A primeira vez que estive no terreno vi uma menina com cinco anos que era do tamanho da minha filha que, na altura, tinha dois. Poderia ser a minha filha, percebe? É muito triste e para quem tem filhos é muito mais comovente. Toca-nos de uma forma muito profunda. Por outro lado, é um trabalho muito compensador.

Dê-me um exemplo de esperança...

Na marcha contra a fome de 2005, Lisboa convidou um grande atleta queniano. Lembro-me que ele me contou que, em criança, foi um dos beneficiários do nosso programa alimentar. Contou-me ainda que, em miúdo, costumava ter tanta fome que ele e os amiguinhos molhavam os dedos com saliva e apanhavam cinza das fogueiras para enganarem o estômago. Se não tivesse sido o PAM, talvez ele nunca tivesse sobrevivido para chegar a atleta. E sim, parece-me que há mais sensibilidade para este flagelo.

A próxima marcha custa a cada pessoa 5 euros. Com muito pouco pode ajudar-se muitíssimo...

Sim, as pessoas não têm a noção que cinco euros dão para 25 refeições. Cada refeição pode custar apenas 20 cêntimos. É uma ajuda preciosa.

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