segunda-feira, 15 de junho de 2009

Efeitos perversos da crise são culpa de apressados e ricos, diz Lula


Lula voltou a criticar os países ricos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, nesta segunda-feira, que medidas tomadas por setores como a indústria automobilística diante da crise contribuíram para a queda do Produto Interno Bruto (PIB), a soma de bens e serviços produzidos no país.

– Alguns setores da economia se precipitaram em praticamente acabar com os seus estoques. Eu poderia pegar, como exemplo, a indústria automobilística, que no mês de dezembro, praticamente não produziu carros, deu férias coletivas, e isso tem um significado muito importante na queda do PIB brasileiro – disse em seu programa de rádio Café com o Presidente.

Na semana passada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou uma queda de 0,8% no PIB do primeiro trimestre deste ano. Apesar de se dizer “um pouco triste” com o resultado, o presidente se mostrou otimista.

– O que é importante é que o pior já passou e a economia brasileira está dando sinais enormes de recuperação”, comentou. “Nós entramos por último nessa crise e vamos sair primeiro que todos os países”, completou Lula, acrescentando que os investimentos e o consumo da população “não permitiram que o Brasil tivesse um efeito mais danoso na queda do seu PIB – afirmou.

Lula também comemorou a queda da taxa Selic, que na semana passada teve redução de um ponto percentual, passando de 10,25% para 9,25% ao ano.

– Desde que foi criada, é a primeira vez que ela está abaixo de dois dígitos. É a primeira vez desde 1986, o que é uma coisa extremamente significativa – ressaltou.

O presidente voltou a falar da necessidade da redução do spread bancário (a diferença entre os juros que o banco paga aos investidores e o que cobra nos empréstimos).
– O spread ainda está muito alto, o spread ainda está seletivo, e nós vamos manter todo o esforço para controlar a inflação – afirmou Lula, no programa gravado antes de sua viagem a Genebra, para a reunião do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU).

Direitos humanos

Segundo Lula, o tratamento dos direitos humanos é um dos principais desafios do sistema multilateral. Ao discursar na abertura da sessão, pela manhã, ele disse que a criação de uma agenda positiva é “mais eficaz” para a melhoria das condições de vida e também para prevenir novas violações de direitos humanos.

– Este conselho deve buscar no diálogo, e não na imposição, o caminho para fazer avançar a causa dos direitos humanos – acrescentou.

Durante o encontro, o presidente afirmou que direitos econômicos, sociais e culturais são “essenciais” para garantir um padrão de vida digno e, sobretudo, para preservar direitos civis e políticos. Lula citou a cooperação brasileira junto a países como Moçambique, Haiti e Palestina e fez um apelo pela paz no Oriente Médio. Para o presidente, o atual momento pede “união de esforços”. Segundo ele, a atenção aos direitos humanos é ”parte indispensável” para superar os reflexos da instabilidade financeira mundial.

Imigrantes pobres

Ainda em seu discurso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a crise econômica e o desemprego não são culpa dos "imigrantes e pobres do mundo". A recessão, de acordo com o presidente brasileiro, joga seus efeitos mais "perversos" sobre os ombros dos países mais pobres.

– Essa crise traz um efeito perverso sobretudo quando os imigrantes, sobretudo os pobres, africanos, latino-americanos e asiáticos, que transitam pelo mundo à procura de oportunidades de trabalho, começam a ser enxergados como responsáveis por ocupar o lugar das pessoas filhas dos países ricos. Não são os imigrantes, os pobres do mundo, os responsáveis pela crise. Os responsáveis pela crise são os mesmos que por muito tempo sabiam como ensinar a administrar os Estados. Sabiam como ter ingerência nos Estados pobres da América Latina e da África – declarou o presidente.

Para o presidente, "esses mesmos senhores que sabiam de tudo um tempo atrás, hoje não sabem mais de nada. Não conseguem explicar como davam tantos palpites nas políticas dos países pobres e que não têm sequer uma palavra para analisar a crise dos países ricos".

Lula citou medidas para legalizar a situação de trabalhadores estrangeiros no Brasil, aprovadas recentemente pelo Congresso, como um exemplo de política a ser seguido.

– No Brasil, nós acabamos de legalizar centenas de milhares de imigrantes que viviam ilegalmente no país. Para dar uma resposta, um sinal aos preconceituosos, aqueles que imediatamente querem encontrar os responsáveis pela sua própria desgraça, o seu desemprego – disse.

Direitos econômicos

Em outro momento de seu discurso, o presidente fez uma relação entre direitos econômicos e direitos humanos.

– A realização dos direitos econômicos é importante para preservar direitos civis e políticos, para consolidar o Estado de Direito, e para construir sociedades democráticas, justas e prósperas – afirmou Lula.

Ele ressaltou que o Brasil investe na cooperação sul-sul como forma de promover os direitos humanos, citando exemplos como a contribuição para a luta contra a Aids na África, e a participação em um projeto de inclusão social na Palestina.

– No Haiti, emprestamos um novo significado às operações de paz da ONU ao demonstrar que, para se obter a verdadeira paz, não basta combater a violência pela força das armas; deve-se, ao contrário, promover o desenvolvimento econômico e, com ele, a inclusão e justiça social – continuou.

Ele disse também que avanços sociais no Brasil - que ele atribuiu ao Fome Zero, Bolsa Família, redução dos níveis de pobreza e elevação do salário mínimo - também melhoraram as condições dos direitos humanos no país.

– A crise financeira, que nasceu da desregularização das economias mais ricas, não será pretexto para incentivar o descumprimento das obrigações de cada Estado com a promoção e proteção dos direitos humanos. Tampouco deve conduzir a que sejam descumpridos compromissos com os mais necessitados – afirmou Lula.

Acordo

Logo após seu pronunciamento, em conversa com jornalistas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que o governo, empresários e representantes dos trabalhadores vão assinar, nos próximos dias, um acordo para garantir condições mínimas de trabalho no setor de cana-de-açúcar. Cerca de 600 empresas já aderiram aos princípios propostos no acordo, que inclui nível de renda, proteção aos trabalhadores e benefícios.

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