domingo, 7 de junho de 2009

Mulheres de Garapa


garapa1.jpgEntre tantos comentários e discussões que o documentário Garapa, novo filme de José Padilha, pode suscitar, para mim um dos mais importante é a atuação das mulheres-mães.

Para quem não viu, Garapa mostra a realidade de três famílias que passam fome no nordeste. Falta total de recursos, crianças nuas desnutridas, sujeira, ignorância e muitas, muitas moscas passam diante dos nossos olhos de forma implacável. Sem qualquer prevenção, as famílias têm muitos filhos. Como não comem e pouco crescem, as crianças acabam parecendo todas da mesma idade. Magros, baixos, olhos vidrados, fala prejudicada. Fome. Para aplacá-la, boas doses de água fervida com açúcar - a tal da garapa.

No meio disso tudo, mães que têm que cuidar de crianças, da casa, do pouco ou quase nada que existe. Caminham quilômetros em busca de um litro de leite doado por órgãos governamentais. Limpam as fezes amolecidas que descem pelas pernas dos pequenos. Sacodem as crianças em seus colos murchos para que parem de chorar consigam dormir mesmo com fome. Estendem o período de amamentação ao máximo, dividindo entre tantos o alimento que vem do corpo.

Os pais? Bebem cahaça. Dormem. Reclamam. O pouco que fazem é de cara feia, como se um favor fizessem. Seria só nestas famílias? Não acredito que se trate de coincidência. É fato que nos dias de hoje, na classe média, os pais são cada vez mais atuantes. Mas no nordeste da fome, sem o emprego que lhe dê o papel de provedor da casa, são um zero à esquerda - ou menos do que isso.

Foi meu marido, ser da mesma espécie, que comentou lá pelo meio do filme, quando o marido de Lúcia (esta da foto, com os três filhos sempre agarrados em sua saia) ,bêbado, a xingou de tudo que é nome enquanto ela tentava dar banho nas crianças:

- Vou te contar, homem é mesmo uma *****!!

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